Assine já a nossa NEWSLETTER

08/12/2011

Entrevista do jornal "O Setubalense" á Presidente da Junta de Freguesia de São Lourenço de Azeitão

«Vai chegar o dia em que os azeitonenses terão “Azeitão uma região, uma freguesia”»

Celestina Neves
Pres.Junta Freg.S.Lourenço Azeitão
A favor de uma reforma administrativa que contemple a fusão das duas juntas de freguesia de Azeitão, Celestina Neves lembra o trabalho realizado nos últimos dois anos de mandato na Junta de Freguesia de S. Lourenço e indica os muitos projectos a concretizar nos próximos anos.
«O Setubalense»: O que é que realça destes dois anos de mandato à frente desta junta?
Celestina Neves: Realço o muito trabalho que foi feito. Quando cheguei e vi o estado caótico em que se encontrava esta freguesia, cheia de dívidas, não estava à espera que fosse possível fazer tanto trabalho. O balanço é muitíssimo positivo. Penso que se fez mais trabalho nestes últimos dois anos do que nos anteriores oito, em que cá esteve outro executivo.
«O Set.»: Quais foram os principais problemas que encontrou quando tomou posse?

C.N.: Quando tomei posse encontrei problemas de toda a ordem: mais de cem mil euros de dívidas; a organização da junta de freguesia estava toda desorganizada, sem inventário, sem procedimentos administrativos obrigatórios por lei, sem SIADAP (Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho da Administração Pública); os funcionários estavam muito desorganizados e trabalhava já cada um para seu lado. Era uma junta absolutamente desorganizada e fora do contexto normal de funcionamento de qualquer órgão autárquico. O que quer dizer que houve um trabalho muito grande, interno, que não é visível para as populações, que foi conseguido com muito esforço.
«O Set.»: Quais foram as intervenções deste executivo que obtiveram um maior impacto na vida dos fregueses?
C.N.: Foi o Azeitão Bacalhôa Parque, porque aquilo era uma lixeira, uma venda de lenha e o resto tudo mato e palha. Foram os campos de futebol de relva sintética, a freguesia, existindo agora três. E tem sido também a intervenção cultural e tradicional. Além da câmara municipal ter feito aqui um grande esforço ao nível dos asfaltos e do saneamento básico. Penso que hoje as populações já notam as diferenças, quer em termos de higiene e limpeza, quer em termos de espaços verdes, quer em termos da calçada, do lancil. As populações, elas próprias reconhecem que há uma grande diferença relativamente ao que encontrámos quando cá chegámos.
«O Set.»: O projecto da câmara municipal “Ouvir a população, construir o futuro” tem ajudado a resolver algumas das queixas da população?
C.N.: Tem resolvido muitíssimos problemas. Tenho-me dado ao trabalho de ir “descascando” tudo o que já foi feito e chego à conclusão de que, de facto, têm andado a cumprir muita coisa. Estamos a falar de intervenções relacionadas com asfaltos, passeios, passadeiras, arranjos de muros e de espaços verdes. Aquelas chamadas “pequenas grandes coisas” que muito dizem às populações. Os grandes melhoramentos são realizados pela câmara, ao nível de asfaltos e de saneamento básico, mas em tudo o resto a junta tem sido uma parceira efectiva da câmara municipal.
«O Set.»: Relativamente ao protocolo de descentralização de competências, considera que está ajustado à realidade desta junta de freguesia?
C.N.: Nós temos que viver no país em que estamos e por isso compreendo que a câmara municipal não tem mais recursos para aumentar a descentralização. Mas, se não fosse essa a situação, defenderia mais descentralização para esta freguesia porque tínhamos forma de cumprir com novos protocolos.
«O Set.»: Há pouco falava de uma parceria efectiva entre a junta e a câmara. Além da descentralização de competências, em que consiste essa parceria?
C.N.: Esta junta, contrariamente a outras, não se limita a alertar a câmara para as grandes obras que são necessárias, ajudamos a arranjar o financiamento para essas obras e penso que só assim é que se consegue. Estou a lembrar-me de duas grandes obras feitas nesta freguesia. Uma foi o Azeitão Bacalhôa Parque, feito numa parceria entre a junta, a câmara e o mecenato e empresários. Quando apresentámos o projecto à câmara já tínhamos parte do investimento assegurado. Outra grande obra que fizemos, foram os campos de futebol de relva sintética. Temos uma colectividade que é o CCDBA (Centro Cultural e Desportivo de Brejos de Azeitão) que tem nesta altura 330 jovens inscritos em vários escalões de futebol que jogavam na lama. Quando fomos à câmara, já levávamos orçamento e grande parte do financiamento assegurado. A câmara não tem recursos para resolver todos os problemas e só se nos juntarmos todos – câmara, empresas e particulares, se consegue fazer um melhor trabalho para as populações.
«O Set.»: Além das obras que indicou, a junta tem também reavivado tradições e criado novos eventos na freguesia, não é assim?
C.N.: Sim, não nos temos limitado à criação de infra-estruturas, temos ido à história, temos recuperado as tradições de Azeitão, nomeadamente a queima de Judas em Oleiros, que houve este ano, como antigamente se costumava fazer. Também concebemos e tem sido um êxito, a Feira de Sabores e Tradições de Azeitão. Temos trabalhado com artistas das nossas colectividades, nomeadamente nos “domingos de teatro”, que se realizaram no Verão, no Convento da Arrábida. Estavam previstas onze sessões e acabaram por acontecer 13 ou 14 porque estiveram sempre esgotadas e foram feitas em colaboração com artistas amadores das colectividades e com a companhia de teatro “Fatias de Cá”, de Tomar, que fez workshops com os nossos artistas. No Natal, fizemos a feira de Natal, tivemos concertos em todas as capelas e igrejas da freguesia e este ano vamos ter novamente. Tivemos também presépios vivos. Temos tido preocupações culturais com as tradições da terra e é assim que queremos continuar.
«O Set.»: Quais são as suas prioridades para a segunda metade do mandato?
C.N.: Em termos de projectos será, continuar a resolver, em conjunto com a câmara, os problemas de saneamento básico. A câmara iniciou este ano uma grande obra em Vale de Canes, em Brejos, que irá custar 800 mil euros. Não nos podemos esquecer que parte dos Brejos de Azeitão, tanto em S. Simão, como em S. Lourenço, a urbanização começou de forma ilegal e anárquica, há 30 e tal anos e são questões muito difíceis de resolver e essa será uma das minhas prioridades. A minha próxima obra será recuperar os antigos lavadores de Vila Nogueira, ao lado da igreja. É uma obra que está orçada em 200 mil euros. Teremos também a construção do novo posto de turismo no Rossio. A própria entrada de Vila Nogueira também será recuperada. Temos já os projectos prontos para refazer as quatro rotundas que estão nesta freguesia, que são da responsabilidade da Estradas de Portugal, para ficarem rotundas dignas de Azeitão. Para isso estamos a trabalhar com empresas da freguesia, até algumas fora da freguesia, para cada uma dar o seu contributo. A câmara tem também um projecto de requalificação da rua José Augusto Coelho. Os projectos estão quase feitos, a câmara vai candidatar-se aos fundos comunitários para a requalificação de centros históricos e penso que também esse projecto irá em frente. Será continuar a qualificação dos nossos espaços, das nossas ruas, continuar com um grande esforço na higiene e limpeza, o tapar o buraco, compor a calçada e temos muito trabalho pela frente.
«O Set.»: Percebo que tem apostado no mecenato. Considera que essa poderá ser uma forma de eventualmente conseguir concretizar outros projectos?
C.N.: Tem que ser. A junta de freguesia tem obras de muitas centenas de milhares de euros mas não tem orçamento para as realizar. As obras que referi só serão concretizáveis com o envolvimento das empresas e muitas vezes até de particulares que têm aderido, até com trabalho próprio. A minha maneira de trabalhar, mesmo quando estava em S. Simão foi sempre de grande envolvimento do tecido empresarial. O Azeitão Bacalhôa Parque só nessa base é que foi feito. A câmara entrou com 150 mil euros, o resto foi a junta e o mecenato e ali está uma obra de quase 500 mil euros. Relativamente aos campos de futebol também foi obra de 300 e tal mil euros e a câmara entrou com cem mil.
«O Set.»: Qual é a situação financeira desta junta actualmente?
C.N.: Esta junta não tem dívidas. Em termos de orçamento é claro que é pequeno e tem vindo a ser cortado pelo governo central e uma freguesia com esta dimensão é muito difícil gerir. Eu defendo uma reforma de recursos e meios. Por exemplo, se esta junta há 12 anos tem um protocolo de descentralização de competências relativamente à recolha de monos, porque é que não há-de ser o governo central a transferir essa competência para a junta e a dar-lhe os meios. Defendo que deve ser dado às freguesias mais meios financeiros e outras competências. A reforma administrativa não é só riscar o mapa.
«O Set.»: Qual é a sua posição no que respeita à reforma da administração local?
C.N.: Eu sou defensora da reforma administrativa. Aquilo que foi feito foi criar uma matriz com determinados itens, o país foi metido dentro daquela matriz e deu aquilo. Eu penso que a reforma administrativa não pode ser só isso. No caso concreto desta região, eu sou defensora de uma só freguesia. As pessoas vivem em Azeitão, são azeitonenses e é o queijo de Azeitão, as tortas de Azeitão, a GNR de Azeitão, os bombeiros de Azeitão... Portanto, isto acaba por ser uma unidade e penso que a população de Azeitão teria a ganhar se Azeitão se unisse. Quando alguns são contra a união de Azeitão, justificam com argumentos falaciosos e de ocasião, como “perdem-se postos de trabalho e as populações deixam de ser tão bem atendidas”. Isso é mentira! Quando fui presidente da freguesia de S. Simão, criei uma delegação nos Brejos de Azeitão para atender a população. Agora, aqui em S. Lourenço, também vou semanalmente atender a população de Brejos. Nos tempos de hoje as pessoas são atendidas da mesma forma em todos os sítios, desde que se criem as condições para tal. A reforma administrativa não vai acabar em 2012 ou 2013 e vai chegar o dia em que os azeitonenses terão “Azeitão: uma região, uma freguesia”. Acredito que a reforma administrativa não se pode esgotar na matriz que foi criada, onde as freguesias de Azeitão não são contempladas.
In O Setubalense 05/12/2011/Vera Gomes

Sem comentários: